Os Pelos Epcarianos
Dia desses, o Leite, cujas mensagens costumam ser de arrepiar, avisou ao Celsinho que a calvície está por um fio (sem querer fazer trocadilho!). Fiquei pensando que essa descoberta chegou relativamente tarde para nós, se bem que, toda manhã, eu ainda perco uns cinco minutos diante do espelho para conferir o placar entre fios brancos versus ausência de fios, jogo duríssimo, com goleadas de parte a parte todas as noites. Fazer o quê?
Agora, que o cabelo já foi importante, disso ninguém duvida. Até na EPCAR, onde havia um padrão rigoroso a ser seguido, muita gente se arriscava a levar uns 8Ps e pagava do próprio bolso a um barbeiro fora da escola para voltar com o cabelo cortado 0,5 cm acima do padrão, e ainda era preciso chorar com o chefe da barbearia para ser liberarado do barbeiro sádico que já aguardava os espertos com um sorrisinho no rosto.
Não sei se lembram, mais havia na barbearia o desenho (de perfil e de costas!) de um padrão de cabelo que era o nosso sonho de consumo na época. Só que, não me lembro do motivo, não era o empregado pelos barbeiros da escola. Aliás, como da primeira ninguém esquece, em 70, quando a turma F foi para o primeiro corte na barbearia, o Molina, que parecia um hippie californiano indo a um festival de rock, provocou uma acirrada disputa entre os barbeiros para ver quem teria o prazer de tosquiá-lo.
Mas mesmo com a barbearia funcionando a pleno vapor, havia entre nós alguns privilegiados pela natureza, cujo cabelo crescia em abundância no alto da cabeça para cima mesmo. Esses colegas conseguiam preservar uma massa considerável de pelos e ainda faziam o estilo Elvis. Nesse grupo de topetudos de elite, estavam o Lisboa, o Vaz e o Marcondes.
Já em 71, houve a pavorosa epidemia do cabelo repartido ao meio, que vitimou mais da metade do corpo de alunos. Naquele mesmo ano, Celestino, ao regressar das férias de início de ano, surgiu com a cabeça totalmente raspada. Na primeira vez que o tenente Batista o viu sem a cobertura (as duas, o bibico e o cabelo), tomou uma caudalosa mijada, chegando a ficar grogue, e iniciou uma discussão lá com ele mesmo a respeito de a ausência de cabelo estar ou não fora do padrão.
Considerando a barba como um sub-item do tópico pelos, lágrimas me vêm aos olhos quando me recordo da alegria com que recebi 4Ds por comparecer a uma formatura com “a barba por fazer”. Descobri recentemente que o Miranda fez parte desse orgulhoso grupo. Numa formatura, nosso comandante, ao descobrir quatro fios de cabelo crescendo em seu queixo, perguntou-lhe: ”Ah, você agora é um seguidor do Fidel Castro?”. Quase fomos, eu e ele, ao Grogotó comemorar retroativamente aquele solene momento de nossas vidas.
Ainda em 71, houve um espetacular evento, organizado, dirigido, controlado e mandado pelo Gilberto (181) e o Eduardo (206), e consistia do seguinte: dentre os alunos participantes, venceria aquele que por mais tempo ficasse sem raspar o bigode. Logo de início, fui vítima de um ato discriminatório por parte do Eduardo, que barrou minha inscrição com o argumento (não totalmente falso) de que eu não tinha ainda bigode. Era muito engraçado ver alguns colegas no rancho ou saindo dele, com as golas da japona erguida, embora o frio já houvesse terminado. O torneio maluco encerrou-se no dia em que o Eduardo foi apanhado com seu moustache em estado adiantado, quase causando um ataque de apoplexia no tenente Batista.
Naquela época, o mercado oferecia poucas opções para mantermos nossa elegância, apesar dos rigores regulamentares. Havia o utilíssimo Celsum, mais dois ou três produtos para aqueles que não pensavam em seguir os passos do Che em Sierra Maestra. Não esquecendo do Neocid, que alguns freqüentadores de mal afamadas espeluncas aplicavam em seus pelos pubianos, geralmente às escondidas.
Ou seja, a criatividade do aluno fornecia soluções mesmo ao mais rigoroso Príncipe Danilo regulamentar.
(publicado no e-Groups em 27/07/2015)