O Produto do Meio

por Prof. TARCIZIO R. BARBOSA

Sociologicamente invocando mestre Durkhein, cito um ensinamento dele que cai como luva na atual conjuntura: “A sociedade (o meio) exerce sobre o sócio (cidadão ou cidadã) uma coerção social irresistível”.
                O ex- Presidente Luís Inácio Lula da Silva sobreviveu ao “meio” de retirante, ascendeu aos píncaros da glória nos “meios” políticos e sociais ao ser duas vezes eleito presidente da República, de onde saiu com espantosos 85% de aprovação popular e  agora desce as tenebras do inferno ao ser condenado – e preso – por ter recebido mimos indevidos de empresas “campeãs nacionais”.
                Não sou Lulista mas me permito um olhar crítico, sob a luz da sociologia, sobre o que aconteceu.
                No início da carreira desse cidadão ele se embrenhou nas lides sindicais em momento impar da sociedade nacional, onde o “meio” trabalhador começava a se organizar em sindicatos fortes vitaminados pela rápida industrialização do nosso Brasil – à exemplo do que já ocorrera décadas atrás nos Estados Unidos. Nesse caldo de cultura o “meio” trabalhador instituiu-se em sociedade forte cujo principal objetivo era fazer contraponto ao “meio” (i.e. sociedade) empresarial que, até então, dominava as relações entre capital e trabalho, a despeito da peia imposta pela CLT.
                Disso resultou o primeiro impacto do “meio” na formação ética e moral do nosso paciente Lula da Silva. Sagaz como poucos mordia e assoprava conforme as suas conveniências, sem descurar no agrado aos patrões e aos empregados. Era antológica a história que corria, dando conta de que enquanto os peões arrastavam cordas untadas de graxa para com elas marcar e rebocar para fora do chão de fábrica, o senhor  Silva (naquela época ainda sem incorporar o Lula ao próprio nome) sentava-se com a diretoria da empresa para saborear um bom whisky, fazendo hora para simular uma negociação extensa para depois ir arengar a massa com ares de grande negociador, paladino e defensor da “peãozada”.
                Nessa quadra o “meio” começa a corromper o nosso paciente. Presentes e agrados são vistos como  mera cortesia inocente e aí começa o problema. Regras escritas são Leis cogentes, mas regras éticas e morais se aprende com o “meio” ou com a família.
                Oriundo de uma família miserável e matriarcal, sem referência paterna e precisando sobreviver em “meio” adverso e amoral, é fácil inferir que a prática da esperteza tenha se entranhado nele, até como auto proteção necessária e daí a considerar-se além da ética e da moral comuns aos formados de raiz, foi um pulo não muito extenso.
                Se já confraternizava com os patrões das montadoras de veículos do ABC, subiu de nível e passou a confraternizar com os verdadeiros donos do poder. Agora não mais como coadjuvante, mas como protagonista.
                Por ocasião da primeira eleição do senhor Lula da Silva à presidência da República expus ao meu círculo íntimo três preocupações que me ocorriam:

  • A ascensão de uma partido de esquerda (o PT, no caso) poderia – como realmente aconteceu – trazer junto toda uma classe ávida de poder e, conforme a melhor doutrina socialista, adotando o princípio de que “os fins justificam os meios”. E os fins passavam por empoderar doutrinaria e financeiramente os iguais, oriundos da mesma origem humilde e sofrida. Aos amigos tudo, aos inimigos os rigores da Lei.
  • Um projeto de poder de longo prazo custa caro e envolve a inversão econômica vigente. Ou seja, em poucas e cruas palavras, quem é rico vira pobre e quem é pobre vira rico, sob a regência de um Estado forte que permita algumas transgressões necessárias para atingir o objetivo maior. Olha o perigo aí.
  • A consolidação do poder só se daria mediante a satisfação de tantos correligionários quanto fosse possível aglutinar – ou comprar – e tantos opositores quantos se vendessem. E estava aberto o balcão de negócios, lembrando que políticos brasileiros adoram enricar ao longo de seus mandatos e que empresários não tem cor partidária, pois visam e perseguem o lucro, de preferência de forma ética, mas se isso não for possível que prevaleça as regras do “meio”.

                Bem, amigos, é isso aí! Julguem vocês mesmos.
 
                São Paulo, 07 de abril de 2018 (Aniversário do glorioso CPOR-SP)
               
 TARCIZIO R. BARBOSA – 2ºTen R/2 -Inf. (Com muito orgulho)