O Galã do SARPA
Minha memória está ficando ruim mesmo. Eu já nem me lembrava desse grupo, SARPA, mas, lendo o nome dos integrantes, recordei-me (como em uma letra antiga de um tango) tratar-se de algo como os 10 mais elegantes da turma.
Sem querer desmerecer ninguém (só faltava a essa altura da vida, escrever para atacar alguém), a verdade é que, em se tratando de finesse e apresentação, não havia páreo para o Marinho. Ele foi a Gisele Bündchen de nossa turma, sem aquele andar de cobra sofrendo de diarréia.
Às sextas-feiras era dia de paradão, e lá estávamos nós, no pátio da bandeira, envergando o quinto A. Nós, ele usava o modelito quinto Ahhhh (ou Ohhhhh), tamanha era sua elegância. O major Silveira o elogiou, segundo me contaram, para evitar o assédio da Pierre Cardin e Hugo Boss, dispostas a levá-lo da EPCAR às passarelas do mundo.
Olhar para os borzeguins engraxados dele durante um dia de sol podia provocar danos irreversíveis às nossas retinas. Houve gente que não foi para Natal porque ousou olhar fixamente a fivela do cinto do Marinho sob o sol do meio-dia.
Outro efeito causado por ele e que também fez seus estragos foi sua voz de comando. En-ca-ga-çan-te! Quem disser que não ficava com medo, mente descaradamente. Podia ser da PA, do MMA, do clube dos herois Marvel, o cara ficava paralisado de susto.
Quem ocupou o alojamento da terceira esquadrilha, sofreu semanalmente com uma gracinha do ilustre colega. À noite, em um dia da semana qualquer, de repente, vinha aquele brado retumbante: alojamento, sentido! Imediatamente, até as camas se perfilavam. Após alguns instantes, entrava no alojamento o Marinho, com seus quinhentos dentes à mostra (outro perigo sob luz intensa) , rindo e dizendo “Obrigado, colegas, podem ficar à vontade”. Sempre saudado pelos gritos de “aí, ô palhaço, vai levar um cacete, hem”. O fato é que toda vez em que ele aplicava o golpe, funcionava.
Na hora de dormir, como numa cama próxima a dele ficava a de um colega pouco chegado a banhos, escovação dos dentes e outros, o Marinho chegou ao requinte de comprar no bobário um spray do tipo Bom Ar com o qual mergulhava o ambiente em um frescor de alfazema. Assim, após o silêncio, quando íamos para a caminha, e alguém elogiava o aroma delicioso, o Marinho explicava:
– É para evitar ser envenenado pelo ronco de certo elemento, que,ainda por cima, libera uns gases perigosos à noite.
(publicado no e-Groups em 27-09-2014)