Charles Astor
Sobre o Charles Astor, que apareceu em BQ em 72, conheço uma história fabulosa.
Depois que eu saí da EPCAR, revi o pai de um antigo amigo niteroiense, que ouvira falar, trabalhara na Panair e teria saído por conta da última esposa. Na verdade, ele fez muito mais que trabalhar na Panair e foi o típico aviador do período romântico, ou seja, aquele que só sabia fazer aquilo: voar. Ao abandonar a carreira, tornou-se um homem medíocre em Niterói, ainda que ótima pessoa. E, no entanto, pilotava e saltava de pára-quedas, e deu, junto com o Charles Astor, instrução de pára-quedismo durante anos na Escola de Aeronáutica, de onde conhecia um monte de então brigadeiros, mas insistia em viver afastado.
Em uma das últimas vezes em que estive com ele, mencionei a presença do Charles Astor em BQ, Ele, que deveria estar nos 60 e tal, exultou. Levou-me ao pequeno quarto que alugava de uma família e mostrou-me, inicialmente, um livro, “Histórias Rudes”, de Charles Astor.
Neste livro havia uma dedicatória do Astor ao meu conhecido, Dirceu Mera (sem o “i”), assim: “Ao Dirceu Mera, que é meu amigo porque é maluco como eu“. A seguir vinha o prefácio, escrito por (se não me engano, Fernando Sabino). Nele o Sabino escreveu que, após ler o livro, reviu o nome do autor e pensou: trata-se de algum autor profissional, escondido sob um pseudônimo, para vender ótimas histórias de aventura. O Fernando Sabino não acreditou que aquelas histórias passadas na Legião Estrangeira, na África, ou sobre pára-quedismo no mundo, fossem de um amador. Tremendo elogio ao Charles Astor, que era justamente um aventureiro e escritor amador que impressionara o grande profissional.
Além disso, havia vários recortes de jornais de época anunciando o inédito salto noturno sobre a baía de Guanabara em 40 ou 50, com o Getúlio, fotos com o tenente Araripe Macedo, com um certo Neiva, que ele conhecera no interior de SP, e tornou-se dono da construtora do T-25, um livro sobre o Spitfire, todo anotado nas margens, e por aí vai.
Por coincidência, li no jornal de hoje um bela frase, atribuída ao Mozart, mais ou menos assim: para ser gênio, não basta talento; ´é preciso amor.
Aí, me lembrei do colega que, no BQ45, me disse o seguinte:
“Fiz inspeção de saúde, e o médico me aconselhou: não tome viagra que faz mal ao coração“
E o colega respondeu na bucha:
“Entre voar e transar, prefiro voar!” (seria esse o amor de que falou o Mozart?)