Causos, contos, pagação de mistério e outras mensagens e textos setentianos.

Quase Crimes em BQ

Eu só poderia retornar a um evento em BQ após me penitenciar de meus quase pecados contra a turma, ou seja, pecados pensados (se bem que, segundo me lembro dos tempos de catecismo, pecado por pensamento também é pecado, o que só dificultava manter a pureza do espírito, principalmente ao sair da igreja e dar de cara com uma garota de mini saia).

Quando fomos para a EPCAR, considerando nossas idades na época, não devo errar muito ao imaginar que a maioria de nós via o mundo como uma imensa floresta habitada por predadores (nós) e presas (as mulheres), Leia mais

As Atividades Secretas

Até os anos 1970, havia no mundo duas atividades que podiam ser classificadas como complexas. A primeira, chamada guerra fria, envolvia aviões voando 23 horas por dia e armados com bombas de hidrogênio, submarinos com ogivas nucleares, códigos secretos, espiões e por aí vai; a segunda, ainda mais complicada que a anterior, consistia na compra e leitura de revistinhas de sacanagem.

Pude entender perfeitamente como se sentiram Copérnico, Darwin e outros, ao contar para meu filho que houve uma época em que não havia uma única foto de mulher pelada pendurada em qualquer banca de jornal em cidade alguma do país, e ter de sustentar aquele olhar de descrédito. Mas nós sabemos o que foi aquela época, e o quanto o James Bond teria de aqui aprender.

O primeiro passo na compra de uma revistinha era ter um amigo conhecido do jornaleiro, porque ninguém se chegava a uma banca de jornal e perguntava impunemente se ali se vendiam revistinhas de sacanagem. Se o fizesse, Leia mais

Segura o Rosa aí!

Na nossa turma havia uns colegas que, mesmo sem ser ainda época da musculação de alto desempenho e dos suplementos alimentares, eram pra lá de indigestos. Alguns faziam alarde da própria força física, outros, ainda que sua musculatura já fosse um tanto assustadora, não aparentavam qualquer perigo. Na turma F, por exemplo, havia o Gomes ou Little John, que, para desespero do Celestino, era um pacato flautista e saxofonista. Segundo a lógica do Negão, para fazer jus ao físico que a natureza lhe dera, o Joãozinho deveria ser lenhador ou estivador nas horas vagas. No mínimo, tocar tuba ou trombone; flauta, jamais. Leia mais

O Galã do SARPA

Minha memória está ficando ruim mesmo. Eu já nem me lembrava desse grupo, SARPA, mas, lendo o nome dos integrantes, recordei-me (como em uma letra antiga de um tango) tratar-se de algo como os 10 mais elegantes da turma.

Sem querer desmerecer ninguém (só faltava a essa altura da vida, escrever para atacar alguém), a verdade é que, em se tratando de finesse e apresentação, não havia páreo para o Marinho. Ele foi a Gisele Bündchen de nossa turma, sem aquele andar de cobra sofrendo de diarréia.

Às sextas-feiras era dia de paradão, e lá estávamos nós, no pátio da bandeira, envergando o quinto A. Nós, ele usava o modelito quinto Ahhhh (ou Ohhhhh), tamanha era sua elegância. O major Silveira o elogiou, segundo me contaram, para evitar o assédio da Pierre Cardin e Hugo Boss, Leia mais

As Histórias da Epcar

Acho a ideia do Nelício, de reunir as nossas histórias, muito boa, mas a pessoa mais indicada para tocar o projeto é o Leite, e os colegas irem contando-as.

O Lúcio nos enviou uma informação “só para ajudar” (a palavra piroca em árabe) que me deixou pasmo. Ali pode estar escrita qualquer coisa, ao menos para mim. Dá para enfeitar uma camiseta, colocar numa plaquinha e a gente pendurar na entrada de nossa casa, tatuar no braço, e todo mundo vai até elogiar. O problema é se alguém perguntar o que quer dizer.

A informação do Leite sobre o “meu nobre, você não é o Zanforlin” passou a história de um nível lendário para o bíblico: o sargento era o Salvador, o aluno, o Abrahão. E o Zanforlin, imagino, na sodoma e gomorra bqnense. É uma outra história e mais interessante.

E seguindo o raciocínio do Cohen, Leia mais

Sobre a Origem de Zabra

Todos conhecemos um menino prodígio, seja no futebol, na música, em qualquer área. Você, que agora mesmo está pensando que jamais conheceu um gênio em carne e osso, se você pertence à turma de 70, eu posso lhe garantir que, sim, você conheceu ao menos um prodígio.

Um mistério que ronda qualquer conversa entre integrantes da turma é: quem se fez passar pelo Zanforlin no pelotão de presos certa noite infeliz (infeliz para ele, o aluno misterioso)? Parece que nem o Zanforlin sabe. Eu até me pergunto se o sargento Salvador não deu uma bobeada (Rá, Salvador, viu que vai cair, deita!) naquela noite de sábado e confundiu o Zanforlin com outro simpático aluno, afirmando incorretamente: “Meu nobre, você não é  o Zanforlin”, quando era. Enfim, um mistério.

E como o Zanforlin parece gostar de mistérios, mudou-se para a selva amazônica, Leia mais

Remédios e Coordenação Motora

Um amigo que também já chegou à idade da razão (aquela que se opõe à da ação), começou a sofrer de um distúrbio do sono, só conseguindo dormir quando os bem-te-vis já começavam a cantoria do amanhecer.

Procurou, então, outro amigo, médico, que lhe prescreveu um medicamento controlado, acompanhado de uma advertência expressa: tome o remédio e vá direto para a cama dormir. Não faça outra atividade, ou a vigília lutará contra o sono, e, principalmente, não saia de casa para nada, é muito perigoso.

Segundo o meu amigo, o remédio de fato é poderoso: é tomá-lo, deitar e, Leia mais

Iran x Lisboa

Desculpem, mas a quase-discussão ou a discussão que não houve entre o Iran e o Lisboa (sobre a possibilidade de uma “disputa” entre 40 mulheres e 10 homens ocorrer) ainda não saiu da minha cabeça.

Vai aí a versão analítica combinatória da questão: Leia mais

Diário da EPCAR 1970 – 4ª Parte

Química, volume 2

O ritmo de estudo na Escola era, para alguns alunos, enlouquecedor, e não emprego aqui a expressão como simples metáfora.

As aulas de Química transcorriam, em geral, numa tranquilidade sepulcral, graças à simpatia e à afabilidade de nosso professor, o grande Ayres Pinto. No entanto, certo dia, como uma violenta tempestade não anunciada, nosso colega Bezerra explodiu em ensandecidas gargalhadas.

Os livros de Química do Vitor Nehmi possuíam uma quantidade invejável de boas qualidades, mas, a comicidade de forma alguma figurava entre elas. Ainda assim, o Bezerra gargalhava como um possuído diante do volume sobre Atomística, que também nada tem de cômico. E, de repente, as gargalhadas convulsas transformaram-se em um choro incontrolável.

Ayres Pinto, que durante a explosão dos risos bezerreanos aproximou-se do colega, ao notar sua brusca mudança de humor, afastou-se imediatamente, Leia mais

Diário da Epcar 1970 – 3a. parte

Ao ar livre

Hora do almoço: passagem de serviço, hasteamento da bandeira.

Garbosamente perfilam-se as duas equipes de serviço próximas ao palanque das autoridades. Um sol inclemente, uma fome terrível e a certeza de que nós, bichos, iríamos esperar uma eternidade para desfrutar das iguarias do afamado restaurante da Escola.

Pa…sss…so o serviço de aluno de dia ao aluno 68/xxx”,  ecoou pelo Pátio da Bandeira a poderosa voz do aluno 68/yyy.

Só pela continência com que o aluno 68/xxx preparou sua réplica, percebemos que aquilo tendia a um duelo de impostações vocais. Leia mais