A Falta Que Faz Um Líder
por Prof. TARCIZIO R. BARBOSA
Dentre as três principais tipificações de liderança – autoritária, democrática e “laissez faire” – talvez esta última seja a mais difícil de ser exercida, ou compreendida como preferem alguns teóricos.
Quase sempre confundida com liderança negligente ela na realidade é aquela que beira o fanatismo religioso. Quando o líder se impõe pela percepção dos liderados em relação as suas vontades, prescindindo de ordens diretas e quase sempre se exercendo por metáforas…por isso a mais perigosa.
Líderes autocráticos são mais comuns. Mandam e todos obedecem, quer por medo, quer por disciplina ou por conveniência.
E líderes democráticos, neste nosso mundo de mil diversidades, estão fadados a cooptação de seus liderados por todas as formas e artifícios à disposição – legais ou não – como “modus operandi” para o exercício do poder.
Mas, como a maioria pensante já pressentiu, isso só funciona adequadamente em sociedades homogenias e razoavelmente instruídas, onde se cultuam princípios de respeito ao bem comum (i.e. não roubar e não deixar que roubem) e ao direito dos outros (i.e. decidir contra si em caso de dúvida fundada e respeitar o princípio de que o direito de cada um termina onde começa o do outro).
Por qualquer avaliação isenta parece insofismável que a maioria da nossa sociedade está longe de alcançar tal consciência coletiva e desprendimento individualista. E isso é fato e os exemplos abundam. Ainda cultuamos, em larga parte, a tristemente famosa “lei de Gerson”.
Em nosso estágio atual não vislumbramos nenhum líder democrático, nem algum autocrata surgente.
Mas, convivemos com um perigoso líder “laissez faire” atuante. No meu bestunto entendo que essa liderança cabe qual uma luva ao senhor Lula da Silva.
Já se disse – e continuam dizendo – que o culto a sua personalidade beira o fanatismo e transcende a razão. E é por isso que mesmo preso e contra toda a lógica disponível, continua líder nas pesquisas de voto para as próximas eleições.
A massa busca nele o que não disse, mas inspira…e sua inspiração é uma ordem não proclamada.
Não pediu benesses de viva voz, mas deixou “parábolas” no ar sobre o que desejava e os desejos se materializaram em triplex, sítio, “palestras” e outros que tais, para si e seus apaniguados.
Ah, “laissez faire” tão mal compreendida e tão insidiosa.
Agora, busca-se na letra fria da Lei os argumentos para enquadrar esse autor que não pediu explicitamente, mas fez com que seus desejos fossem pressentidos de forma sub-reptícia por aqueles a quem interessava agradar o líder.
É difícil personificar esse tipo de comportamento social, onde sobra carisma e falta escrúpulo. Afinal um lider “laissez faire” tanto pode ser Jesus Cristo, como Macunaíma.
Uns vem para o bem de todos – ou da maioria, vá lá – e outros vem demonizar o pedaço ou, simplesmente, deixar que o pedaço se demonize por si mesmo ao longo do tempo de inanição cívica.
E eis-nos aqui no atual dilema pré-eleitoral: quem virá a seguir?
Haverá um líder a nos guiar? E que tipo de liderança exercerá?
Pelo que se vê delinear no horizonte próximo o senhor Lula da Silva está fora do jogo mas, como como já se disse por aí, “no Brasil até o passado é incerto” (cf. Pedro Malan) e o “Brasil não é para principiantes” (cf. Tom Jobim). Tudo pode acontecer, inclusive nada.
E nos perguntamos se assim será e se assim for, a quem ele ungira para receber o voto da parte dos seus fieis seguidores/adoradores ou como será termos um presidente presidiário.
Já que temos Deputados presidiários, por que não?
O Capitão Bolsonaro, assim como o senhor Ciro Gomes talvez tragam o viés autocrático que estamos precisando…mas, aí será necessário “acorrentar” (fechar, não!) o Congresso e calar o ímpeto legiferante do Judiciário. Quem há de?
O senhor Alckmin não parece sequer um líder mas, tem a seu favor a característica da previsibilidade da política “feijão com arroz”, sem surpresas e sem que o Brasil consiga o arranque necessário capaz de livrá-lo do atual atoleiro. Com ele pressente-se um quadriênio de mais do mesmo.
E Henrique Meireles, um banqueiro, capitalista por devoção e Manuela D’Ávila comunista extemporânea… o que deles esperar? Nada, pois lá não chegarão.
Marina Silva “tatibitate” não inspira voos de longo prazo nem políticas permanentes.
Álvaro Dias não parece capaz de empolgar.
E os outros, bem os outros nada trazem que empolgue. Enfim, órfãos estamos, de pai e mãe, veros filhos de chocadeira destinados ao abate ou ao embate. Mas, seguramente não ao jardim da prospera bonança.
Eis o quadro atual! Que Deus nos ajude!
Enquanto isso vamos ali na esquina, comprar um presente para nossa namorada e esquecer momentaneamente o tormentoso Brasil.
São Paulo, 12 de junho de 2018
TARCIZIO R. BARBOSA