Segura o Rosa aí!

Na nossa turma havia uns colegas que, mesmo sem ser ainda época da musculação de alto desempenho e dos suplementos alimentares, eram pra lá de indigestos. Alguns faziam alarde da própria força física, outros, ainda que sua musculatura já fosse um tanto assustadora, não aparentavam qualquer perigo. Na turma F, por exemplo, havia o Gomes ou Little John, que, para desespero do Celestino, era um pacato flautista e saxofonista. Segundo a lógica do Negão, para fazer jus ao físico que a natureza lhe dera, o Joãozinho deveria ser lenhador ou estivador nas horas vagas. No mínimo, tocar tuba ou trombone; flauta, jamais.

Outro parrudo-zen era o Rosa, atleta peso pesado, porém exímio dançarino nas noites do Bqnense e Olimpic.

No Baile do Adeus ou dos Cem Dias, não me lembro do nome exato, eu já pedira desligamento, mas voltei a Barbacena para o evento. Resolvi me hospedar no meu antigo apartamento no H8, mas minha cama estava ocupada pelo irmão do Molina, que também fora ao baile, em busca de boa música, boa dança e, provavelmente em busca daquilo que o Djair chamava de as “assustadinhas”, as garotas da cidade (ele deveria chamá-las assim pelo efeito que suas conversas nelas produzia).

Ao final do baile, depois de dançar com muitas, apertar algumas e não comer “assustadinha” alguma, voltei ao apartamento com o Rosa (que naquela altura apresentava vestígios de  sangue no seu álcool) Celestino e outros.

Quando entramos no apartamento, a penumbra do dormitório e a pouca quantidade de oxigênio no corpo do atleta (para dar lugar ao álcool, alguma coisa tinha de sair) fizeram a longa cabeleira do irmão do Molina esparramada sobre o travesseiro sugerir ao Rosa apenas parte do corpo da mais bela ninfa, aguardando em seu sono a chegada do guerreiro. A alguns dias de  sua formatura, ele deve ter imaginado que, após  três longos anos, suas orações haviam sido finalmente atendidas, e ali – teste estava uma gata deitada na cama ao lado da sua. Emocionado, ele citou o seguinte trecho sagrado:

– Que garota gostosa! Vou comer!

E passou imediatamente a se despir, sem considerar as advertências do assustado Molina, tendo que ser contido por todos os moradores do ap 121 (inclusive eu, cuja reação à sua força era desprezível, como em certos problemas de física) e mais alguns corajosos vizinhos do 122.

 Um tempo depois,  com o Rosa apagado,  alguns de nós conversávamos sobre a cena.

 O comentário que mais se ouvia era: – PQP, que força tem o Rosa,cara!

(publicado no e-Groups em 01-10-2014)