Remédios e Coordenação Motora

Um amigo que também já chegou à idade da razão (aquela que se opõe à da ação), começou a sofrer de um distúrbio do sono, só conseguindo dormir quando os bem-te-vis já começavam a cantoria do amanhecer.

Procurou, então, outro amigo, médico, que lhe prescreveu um medicamento controlado, acompanhado de uma advertência expressa: tome o remédio e vá direto para a cama dormir. Não faça outra atividade, ou a vigília lutará contra o sono, e, principalmente, não saia de casa para nada, é muito perigoso.

Segundo o meu amigo, o remédio de fato é poderoso: é tomá-lo, deitar e, batata, em menos de cinco minutos está-se dormindo direto, sem escalas até o dia clarear. Uma beleza.

Numa noite de sábado, ele saiu com sua esposa e, ao voltaram para casa, notou que ela estava agitada, ao que parece, muito agitada. Enquanto ela foi ao banheiro, naquele conhecido movimento que precede grandes acontecimentos dessa natureza, ele aproveitou e foi tomar outro remédio.  Como é meu amigo, não perguntei se o outro remédio era o Viagra.

A esposa, como já disse, estava muito excitada, assim, ele, com toda a experiência que deve acompanhar a redução da força física, optou por umas preliminares prolongadas, sabiamente poupando suas energias para aquela explosão nos momentos finais do embate, com o que ainda proporcionaria à sua parceira momentos de puro êxtase.

Mas, no sexo (como no futebol), o imprevisível acontece. De modo que lá estava ele quase se afogando em secreções íntimas, agarrado com furor pelas mãos crispadas de sua ensandecida senhora, quando adormeceu. É, rapaz, dormiu. Ali, com a boca na botija (literalmente).

Do resto, ele não se lembra. Suspeita que, na tensão do momento e agindo no automático, tomou, por engano, o tal remédio controlado. Acredita também que esposa ficou furiosa, pois havia uns dois dias que ela mal respondia a suas perguntas.

(publicado no e-Groups em 20-08-2014)