70-339 Freitas
Ter 16 anos de idade na década de 70 era algo desafiador.
De origem humilde, e vindo de uma família de educação severa, era o sanduiche de cinco filhos, duas irmãs mais velhas e duas mais novas. Eu sentia ter a responsabilidade de realizar os sonhos de meus pais. Ser alguém na vida, era a direção a ser seguida. Mas eu também tinha sonhos, liberdade era algo a ser conquistado. Nas ruas a política fervia, e o engajamento dos jovens nos movimentos sociais era quase que obrigatório. Mas os riscos eram enormes.
A vida militar se apresentava para mim, ainda adolescente, uma excelente opção – ensino de qualidade, liberdade sem o risco de enfrentar o regime, status para o orgulho dos pais, entre outras coisas.
Medo do novo, insegurança da solidão, incerteza da decisão, saudade da infância, assim cheguei a BQ. Durante três anos ganhei amigos leais e sonhadores, com os quais cresci. Aprendi a amar a aviação, um sonho deles que passou a ser o meu também. Em Natal, já crescido, sentia que podia dar mais para o meu país, podia participar da construção de uma pátria melhor, mas ali não era o lugar. Após solar o Zarapa, achei que havia provado, para o mundo, que podia ser aviador – mas não queria continuar militar. A saída era o caminho. E pedi meu desligamento, com outro sonho na cabeça: “voar” por conta própria.
Hoje, 40 anos depois, muito aconteceu. Não consegui prosseguir na aviação por questões burocráticas; quando esses entraves foram superados, a vida tinha tomado outro rumo e isso não mais interessava.
Rodei o Brasil trabalhando em ótimas empresas por conta da excelente formação educacional e moral adquirida na FAB. Mais tarde, já com a família constituída – hoje: três filhos e duas netas – comecei a dar aulas por hobby e acabei gostando da experiência. Agora, aos 62 anos, funcionário público municipal e professor universitário, aguardo a aposentadoria para ter mais tempo de tomar minhas cachaças com os mesmos amigos daquela época.
Nossos sonhos são a razão de nossas vidas, o compromisso de segui-los faz a diferença entre viver e passar pela vida. O sucesso é íntimo, não precisa ser visível para que todos saibam de sua existência, mas tem que ser sentido, senão não vale a pena continuar.
Dizem que, os amigos, a gente conta nos dedos, mas, no meu caso, isso não é verdade. Tenho muitos amigos, meus quase irmãos, adquiridos na EPCAr e no CFPM, além de vários outros que aprendi a amar por onde passei.