Depois da Decisão

por Prof. TARCIZIO R. BARBOSA

                Decididas as eleições, mais uma vez restou  a certeza de que a maioria do povo brasileiro continua conservador em seus costumes. Mais uma vez o socialismo, com suas diversas nuances, foi derrotado pelo voto soberano de 57,7 milhões de eleitores, contra os 47 e poucos da outra facção.
                Mas, a análise desse resultado mostra que a sociedade está dividida entre dois polos radicais. De um lado a “direitíssima” e de outro a “esquerdíssima”. Sem espaço para o centrismo.
                No cerne da questão vislumbram-se os desmandos cometidos pela esquerda, representada pelo PT e seus apaniguados, não só na gatunagem pura e simples, mas, também, nos indicativos com viés amplamente socializante, com destaque para os seguintes episódios para lá de controversos:

  1. A ampliação do Porto de Mariel, em Cuba, em obra realizada pela nossa conhecida Odebrecht, elevou a capacidade de manejo daquele cais para inacreditáveis um milhão de “containers”/ano, o que equivale a um terço da capacidade do nosso maior porto marítimo (Santos). Capacitando-o ainda, a receber navios com até dezoito metros de calado. Para efeito de comparação veja-se que o Porto de Santos admite um calado de 13,5m (trecho IV- do armazém VI até o terminal da Alemoa) (Lei 12.815/13 – art. 18 º, inciso I, item D), sendo que os demais trechos admitem calados ainda menores. Essa obra custou ao BNDES um “empréstimo” ao governo cubano de US$ 802,000,000,00 – isso mesmo, 802 milhões de dólares, ou R$ 3,1 bi, ao câmbio da época – que ninguém acredita venha a ser pago. Até agora o governo de Raul Castro já deixou de pagar, só neste ano da graça de 2018, 20 milhões de dólares, correspondentes a três parcelas da dívida.  Observe-se que uma implantação de um complexo portuário desse tamanho, a partir do zero, não deveria custar mais do que uns 500 milhões de dólares…e aqui se trata de uma ampliação do já existente.  Mais intrigante ainda é que esse enorme montante de dinheiro  representa quinze vezes mais do que tudo que foi investido em portos brasileiros no mesmo período e  a administração do complexo foi entregue a uma empresa de…Cingapura.  Sem contar que até hoje, passados mais de vinte meses da sua conclusão está operando com uns 15% de sua capacidade projetada.  Deixando-nos com cara de idiotas.
  2. A compra da Refinaria de Pasadena (conhecida pelo apelido de “ruivinha” devido a ferrugem galopante que ostentava) nos Estados Unidos, nos tungou em mais US$ 1,3 bi, ou R$ 5 bi (câmbio da época) para pagar por uma sucata que a Astra Oil, proprietária da dita cuja, tinha comprado dois anos antes por meros US$ 42 milhões. “Ó quão bom e agradável” foi fazer negócio com a Petrobrás. Ladrões idiotas, pois, segundo a Polícia Federal esse “negócio” rendeu propina de “apenas” US$ 15 mi.  É de morrer de rir.
  3. Na terra dos “hermanos” bolivianos também andamos fazendo graça. De 1995 a 2005 a Petrobrás investiu US$1,5 bi na Bolívia, sendo responsável, nesse período, pela compra de gás natural daquele país em montante equivalente a 18% do PIB local. Em 1º de maio de 2006, o presidente Evo Morales nacionaliza a Refinaria ali construída por nós, oferecendo valor irrisório pela mesma (US$ 102 mi) sendo que só nela a Petrobras já havia investido US$ 134 mi… nada mal para ladrão que rouba ladrão.
  4. Ainda em plagas bolivianas o BNDES concedeu financiamento de US$332 mi para que a OAS construísse uma estrada que restou embargada por atravessar terras indígenas. A obra não foi feita, mas o dinheiro não voltou.
  5. Somente na América Latina os desvios se somaram em números astronômicos, conforme visto no mapa abaixo


6. Isso sem falar nas tramoias em terras africanas, notadamente em Angola e Moçambique, onde até mina de diamantes no Rio Kuanza entrou na dança. Ou, aqui mesmo no Brasil do “mensalão”, da “lava a jato” etc. etc.  Mas isso é outra história
                Não está fácil ser brasileiro atualmente.
                Caberá ao futuro Presidente e ao novo Congresso botar ordem na casa, mas não será fácil.  Desaparelhar – ou desratizar, se preferirem – esse contubérnio indecente que vem grassando por aí, incutindo doutrinas espúrias espelhadas nos exemplos que vem de cima e corrompendo toda uma geração – já desvirtuada – que se apega sem pejo à famigerada lei de Gerson e a esquerda inconsequente.
                Meios acadêmicos, artísticos e boa parte da dita “intelligentzia” pátria  reverencia-se ao social/comunismo como se não houvesse  amanhã para cobrar a conta das benesses dadas sem lastro, ou como se existisse, mundo afora, um único caso concreto de sucesso a longo prazo dessas ideologias, ou mesmo no passeio pela história da humanidade ao longo dos séculos…não há!
                 E essa “intelligentzia” se dogmatiza como que por fé cega, e dane-se a razão.  Paupérrimos intelectuais esses que temos, com todos os seus títulos, mas sem a capacidade de discernir entre a fantasia e a razão.  Lembram-me um precioso livrinho (258 páginas) de Arthur Schopenhauer (1788-1860) intitulado “Como Vencer um Debate sem Precisar Ter razão” ( Ed. Topbooks – 1977).
                Falaciosamente, a esquerda brasileira e internacional apega-se ao que se chama nesse livro de  “5 – Uso Intencional de Premissas Falsas”.  Vejam que as ditaduras esquerdistas mundo afora usam e abusam da palavra “democracia” em suas perorações.  O que configura uma proposição falsa em si, mas verdadeira “ad hominem” (palatável para quem a ouve).  “Expondo velozmente a sua argumentação, fundada em princípios caros a quem ouve (democracia, por exemplo), pois os que compreendem com lentidão não conseguirão acompanhar o raciocínio e não se darão conta das eventuais falhas e lacunas da argumentação” (pag.140 – opus cit.).
                Nessa mesma toada vale reproduzir também comentário de Olavo de Carvalho, ao pé da página citada, onde esse intelectual de raiz e não de corola, aponta: “Esse estratagema é prática usual e aceita como legítima no debate cultural brasileiro. Algumas de nossas mais brilhantes estrelas intelectuais devem a ele boa parte do seu sucesso.  Seu emprego é facilitado pela admiração que, em nosso meio, se dá a loquacidade e particularmente a capacidade de falar depressa, tida ingenuamente como indício de domínio do assunto” (sic).
                E, lá se vão os carneiros alegremente seguindo a manada.  Pobre desse povo que assim se deixa levar… e não são aqui os iletrados, são a “intelligentzia” pátria.  É de dar dó!
                                Há que se começar a faxina pela educação fundamental ascendendo, paulatinamente, até os meios universitários, dando aos instruendos uma escola sem partido onde TODAS as ideologias devem ser ensinadas sem viés catequizador.  Pode-se sim, ensinar socialismo, comunismo, capitalismo, democracia, nazismo, fascismo etc. em aulas.  Mas, não se pode direcionar ou doutrinar os alunos para uma ou outra vertente.  Isso é ensinar, passar todo o leque de conhecimento e convidar a classe discente ao raciocínio e a conclusão personalíssima de foro íntimo de cada um, em plena adoção da heurística cuja melhor definição vernacular é: “procedimento pedagógico pelo qual se leva o (a) aluno (a) a descobrir por si mesmo (a) a verdade que lhe querem inculcar” (Aurélio – 2ª Ed.- Pag. 891).
                Talvez valesse à pena criar um decálogo nesse viés, em contraponto ao de Lenin, usado e abusado na catequização esquerdista visando, em última análise, a tomada de poder para si.
                Quanto a “intelligentzia” atual, majoritária e burra por suposto, só nos resta isolá-la para que não contamine as novas gerações e esperar que o tempo, o exemplo e as realizações – espera-se, com fé, que haverão – se façam sentir nos bolsos, na cultura  e na ética dos homens e mulheres comuns e de boa vontade, não contaminados pela “intelligentzia” tupiniquim.
                São Paulo, 6 de novembro de 2018
TARCIZIO R. BARBOSA