Prazo de Validade

por Prof. Tarcizio R. Barbosa

Tudo na vida tem seu prazo de validade estabelecido por algum critério, exceto Deus, é claro.
Para estes olhos esse prazo chegou nos meus setenta e seis anos. Fui trocar as “lentes”.
Como bom observador que pretendo ser, pude observar três fatos interessantes:
Um – A minha nova lente (Zeiss) vê cores com tendência ao espectro azul.  É como se fossemos ajustar as cores da televisão deslizando o cursor para a esquerda.  Já a minha lente original vê cores mais quentes (tendentes ao vermelho)…  Lembram-se daqueles óculos antigos de 3D com uma lente azul e outra vermelha?  É mais ou menos assim.
Dois – A recuperação da cirurgia foi quase imediata.  Já no segundo dia após a operação não sentia nenhum desconforto nem sequer, tinha a visão embaçada, tal como relatada por vários colegas e amigos que se submeteram a mesma intervenção.
Três –  A insistência das enfermeiras atendentes em perguntar, seguidamente, o meu nome completo e a minha data de nascimento. Isso até entendo, pois devem tratar cotidianamente com velhos senis…como eu, com desorientação espacial e de memória. Da próxima vez, carioca gozador que sou, vou dar as respostas mais estapafúrdias só para ver o que acontece! Estou seriamente propenso a responder que meu nome é jeovah (com minúscula mesmo) e que nasci com o universo…KKKKKKKKKK.
Brincadeiras à parte, me surpreendo com essas novas técnicas cirúrgicas, de intervenções invasivas em local obviamente sensível, com efeitos colaterais nulos. Para mim que já fui operado submetido a anestesia via éter e até a intervenções à seco (sem qualquer anestesia) para redução de fraturas e luxações, é algo instigante não sentir nada enquanto “estupram a sua menina dos olhos” e nem sequer acordar (pois não dormiu) com uma “menina dos olhos” nova em flor, ainda que vendo cores tendentes ao espectro frio do arco- íris (tendência ao azul). É quase como aquelas operações de reconstituição do hímen perdido das donzelas da metade do século XX em alguma aventura noturna, que as famílias abastadas proporcionavam às moçoilas casadoiras. Pois na época virgindade só deveria ser perdida no casamento. Graças à Jeovah ( aqui com maiúscula) isso foi revertido na revolução sexual dos anos setenta/oitenta do século vinte…e olha que essa era uma operação cara, pois era realizada na Suíça…KKKKKKKKKK.
Mas, o pior acontecia quando a moça recauchutada voltava ao Brasil e era novamente extraviada por algum sedutor da hora…Aí não tinha mais jeito, pois não havia aba de hímen que sustentasse uma nova “costura”. KKKKKKKKK.
Amanhã vou submeter o meu olho direito ao mesmo procedimento com a esperança do mesmo resultado e, quem sabe, com a manutenção da percepção de cores do original.
Já estou até elucubrando qual será a teoria se algum espeleólogo vier a topar com a minha ossada daqui a uns duzentos ou trezentos anos e encontrar algumas fraturas, três implantes dentários e dois cristalinos “Zeiss”. Imaginem um Eric Von Daniken redivivo sustentando uma nova teoria de que “Eram os deuses astronautas”, ou que os humanos da época eram biônicos…Melhor não, prefiro ser cremado e que as cinzas sirvam de adubo para alguma árvore frutífera, lembrando as férias da minha infância na Ilha de Paquetá, onde pulávamos a grade do cemitério para roubar mangas…eram as melhores que já comi. Deve ser por causa do adubo. KKKK não, isso é à sério.
Bem amigos, depois de tantas perguntas repetitivas, acho que consegui externar as minhas mais relevantes observações sobre a cirurgia da catarata.
Grande abraço e obrigado pela preocupação de vocês
São Paulo, 14 de dezembro de 2017
TARCIZIO R. BARBOSA