A Blusa
Ali estava ela: a blusa e seu decote, generoso. Deixava um pouco mais do que o necessário a mostra.
Num primeiro momento, mal se percebia a blusa, mas, mesmo sem ser percebida, ela abusa.
Instigante. Fazia com que a minha imaginação viajasse por lugares desejáveis.
Um arriscar de olhar e tentava-se ver algo mais do que era o permitido, do que era para ser visto, mas essa deveria ser a ideia.
Podia imaginar minhas mãos os tocando. Podia sentir seu tamanho. Apetitosos é a palavra certa descrever o que eu deseja ver, tocar, acariciar, beijar, poder me deliciar neles, ao alcance de minhas mãos, mas não do meu olhar. Só podia os imaginar e isso era o bastante para acordar o desejo de não só tocá-los, mas de tê-los, e muito mais.
Minha imaginação passeava pelo santo para, em seguida, chegar ao vadio.
Uma hora ele é o que alimenta, que nutre, que protege, para no momento seguinte, também alimentar, não mais o corpo, mas o desejo, a alma, o ser desejante.
Quase posso sentir seu sabor. Seria ele como uma taça, ou como uma gota? Não saberei, apenas o imaginar e isso acende a chama do desejo.
Num momento, ao ser percebido que era desejado, acordou e como que, querendo furar a blusa, deu o ar de sua graça. E que graça!!
Assim como uma agulha, ele me espetava e fazia com tamanha singeleza e graça que mal podia me conter.
Impossível desviar o olhar. Mas ali continuava ela, a blusa, a blusa abusada em proteger o desnude, mas que abusava de aguçar minha imaginação.
Minha hora chegou. O ponto onde deveria saltar há muito já havia passado. Entretido em tão bela visão. O tempo passará e a distância, não só de meu destino, mas de meu desejo ficará para trás.
Saltei e trago, até hoje, a lembrança da blusa que ainda abusa de minha imaginação.
PS. A blusa, de tecido fino, um pouco que transparente, repousava docemente sobre o corpo de quem a vestia, simplesmente assim: ela e quem deveria, por ela, ser coberto.